ECORURAL - QUE TURISMO É ESSE?

Category: Educacional

Sabemos que metade das exportações no Brasil estão relacionadas ao agronegócio, que representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB). É comum a associação do agronegócio às grandes empresas agropecuárias, mas não dizem que os pequenos estabelecimentos de agricultura familiar são quem mais empregam no campo.

A Fazenda dos Cordeiros estimula e trabalha com a agricultura familiar, responsável pelo desenvolvimento sustentável de Silva Jardim, praticando turismo EcoRural, poderoso instrumento de diversificação da renda familiar rural, de novas oportunidades de empregos, possibilidades de integração social e valorização da cultura rural.

Na Fazenda dos Cordeiros, acreditamos que o fenômeno social que acontece na zona rural em especial em unidades familiares rurais, é o aparecimento do turista popular como um potencial

consumidor. Assim, o turismo como uma atividade econômica pode oferecer, quando bem estruturado, à novas demandas.

Na Fazenda dos Cordeiros, temos um clima diversificado, abundância de sol, de água doce potável e muitos hectares de matas protegidas e terras agricultáveis, uma vocação natural para a agroflorestal.

Sabendo que o agronegócio é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), por 42% das exportações totais e por 37% dos empregos brasileiros. É hoje a principal força motriz da economia brasileira e responde por um em cada três reais gerados no País (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2004).

O agronegócio é, segundo Rozenbaum e Leitão (2006, p. 296), “o conjunto de empresas que atuam na produção, processamento, distribuição e vendas de produtos agropecuários”.

A participação da agricultura familiar na economia nacional, está representada por 4,5 milhões de estabelecimentos onde se empregam 70% da mão de obra das zonas rurais dos municípios.

Em 2003, a agricultura familiar representou 3,6% do PIB nacional, correspondente a 38,71% do PIB agropecuário (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO; FIPE apud LISITA, 2005).

No Brasil, em 1960, 70% da população viviam na área rural e, em 2000, menos de 20% ocupavam essa mesma área em razão do intenso processo de urbanização ocorrido aqui e no mundo. A explosão urbana transformou as cidades inadequadas para o hábitat humano, pois carecem de infraestruturas urbanas e sociais, elementares à qualidade de vida dos cidadãos (DOWBOR, 2001).

O processo de urbanização, fruto da industrialização, foi reforçado pela modernização agrícola do campo que concentra terras em grandes produtores para obtenção da produção em larga escala.

As constantes crises econômicas por que passou o Brasil, a falta de políticas públicas que visassem, a longo prazo, a uma melhoria na qualidade de vida da população, fizeram aumentar a desigualdade social, as diferenças regionais e intrarregionais.

Diante do quadro de crises que o País atravessa, problemas de desigualdade social, subdesenvolvimento e concentração de terras fazem com que a reforma agrária torne-se estratégica para a retomada do crescimento e desenvolvimento do País. Tal afirmativa baseia-se na reforma agrária como uma política de justiça social com redistribuição de renda e poder (VILELA, 2002, p. 1).

No Turismo EcoRural, Beni (2001) constatou que a atividade, ao mesmo tempo, desencadeia benefícios socioeconômicos e efeitos colaterais maléficos, quando não devidamente controlados.

Entre as características beneficiadoras, estão: seus valores naturais, culturais e sociais; ou estendendo os contatos culturais e estimulando interesse pelas viagens turísticas.

E entre as de efeitos nocivos não desejados: falta de informação adequada; destinação turística, que não obtêm benefícios diretos das visitas dos turistas ou do próprio sistema de turismo da localidade; O espaço físico onde o turismo se desenvolve é invariavelmente afetado. Com base

nesse antagonismo, Ruschmann (2002, p. 141) afirma:

Encontrar um equilíbrio entre os interesses econômicos que o turismo estimula e um desenvolvimento da atividade que preserve o meio ambiente não é tarefa fácil, principalmente porque o controle depende de critérios e valores subjetivos e de uma política ambiental

e turística adequada [...]

Por isso, Ruschmann (2002) aponta para outras formas da atividade turística para contrapor os impactos negativos do turismo de massa: os turismos alternativos, que recebem também os nomes de turismo responsável, turismo leve, turismo ecológico, turismo rural, agroturismo, turismo sustentado.

É grande a tipologia utilizada para designar os diversos tipos de turismo que se desenvolvem no ambiente rural e que são constantemente nomeados como “turismo rural” simplesmente. Entre eles: arborismo, turismo equestre, pesque-pague, ecoturismo, canoagem, turismo de aventura, pesca esportiva, ecorural, etc. Como pondera Rodrigues (2001), o correto seria classificá-los como ‘turismo no espaço rural’.

O Ministério do Turismo (2003, p. 7) esclarece:

[...] muitas práticas turísticas que ocorrem no espaço rural não são, necessariamente, turismo rural, e sim atividades de lazer, esportivas, ou ócio de citadinos que ocorrem alheias ao meio em que estão inseridas. Isto é, considera-se turismo no espaço rural ou em áreas rurais [...]

A definição de turismo rural, de acordo com o Ministério do Turismo — MTur — (2003, p. 7), é “o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade”.

Quanto à atividade turística desenvolvida pelos produtores familiares rurais, é conceituada de Turismo Rural na Agricultura Familiar — TRAF — e entendida como:

[...] a atividade turística que ocorre na unidade de produção dos agricultores familiares que mantêm as atividades econômicas típicas da agricultura familiar, dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo de vida, o patrimônio cultural e natural, ofertando produtos e serviços de qualidade e proporcionando bem-estar aos envolvidos (Mtur ,2003, p. 8).

Consideram-se agricultores familiares, segundo o Ministério de Desenvolvimento Agrário — MDA — e a Secretaria de Agricultura Familiar — SAF — (2004, p. 19):

[...] produtores familiares tradicionais e assentados por programas de reforma agrária, extrativistas florestais, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, pescadores com métodos artesanais, povos da floresta, seringueiros e suas organizações, entre outros públicos definidos como beneficiários de programas do MDA/SAF.

O agricultor familiar tem um acréscimo de receita na troca de atividades ligadas a hospedagem, alimentação, cultura e lazer. Pode ainda comercializar diretamente sua produção com os visitantes. Ao apropriar-se da cultura local e do ambiente natural para vendê-los em forma de produtos turísticos, os campesinos valorizam seus modos de vida e conservam os recursos naturais. É um reconhecimento da importância como pessoas e cidadãos que contribuem para a economia do país. Resgata-se, assim, a dignidade daqueles que suam pelo trabalho da terra e dela vivem com orgulho.

Economicamente, a inserção da atividade turística na agricultura familiar pode aumentar a renda, principalmente com a comercialização de produtos feita diretamente ao consumidor/turista. Os benefícios sociais refletem-se na dinamização da cultura rural, na necessidade de os agricultores familiares manterem sua identidade e autenticidade.

É desencadeado um resgate de valores, costumes, códigos: orgulhar-se da sua ascendência, relembrar histórias, resgatar a gastronomia, exibir objetos antigos antes considerados velhos e inúteis, seu modo de falar, suas vestimentas, seu saber. Ressurgem, desse modo, as artes, as crenças, os cerimoniais, a linguagem, o patrimônio arquitetônico, que são restituídos ao cotidiano, transformados em atrativos típicos usados como marcas locais interessantes para o turismo (MTur, 2004, p. 5).

O Poder Público, para gerir uma atividade que envolve um universo potencial de 4,5 milhões de estabelecimentos familiares, criou, por meio do Ministério de Desenvolvimento Agrário, a Rede de Turismo Rural na Agricultura Familiar — REDE TRAF —, como principal instrumento de implementação do turismo na agricultura familiar. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Agrário — MDA — (2004, p. 7), a REDE TRAF constitui-se:

[...] em uma articulação nacional de instituições governamentais e não governamentais, técnicos e agricultores familiares organizados, que atuam nas atividades do turismo rural com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e promover o desenvolvimento rural sustentável.

Percebemos, principalmente pós pandemia, o aumento, ano a ano, do número de propriedades Rurais preocupadas com a sustentabilidade econômica, não se podendo negar que todas elas possam desenvolver o TRAF e aumentar suas chances de sustentabilidade na propriedade.

Cabe a REDE TRAF e a todo seu aparato institucional conseguir capacitar, organizar em redes, facilitar o financiamento para novas infraestruturas e inserir os novos agricultores familiares no mercado turístico.

Do ponto de vista da demanda, um nicho de mercado emergente e pouco explorado encontra-se nas classes de baixa renda, as chamadas “C” e “D”, que pertencem ao segmento conhecido como turismo popular ou social (MTur, 2006). Segundo pesquisa do MTur/IBAM — Instituto Brasileiro de Administração de Municípios — (2006), os turistas de baixa renda gastaram 3,8 bilhões de reais com viagens em 2003. Costumam viajar em grupo e com frequência, o ano todo, principalmente nos finais de semana e feriados. Percorrem normalmente distâncias curtas ou médias e têm, como destinos, locais no interior do próprio estado. Seus destinos turísticos são variados, entre eles estão praias (27%), área rural (11%), rio/pesca (10%), festas (8%). É importante destacar que passeio e descanso, visita à família e aos amigos são os principais motivos da viagem.

Interessante que o estreitamento de laços sociais foi largamente mencionado na pesquisa qualitativa. Dessa forma, predominam as excursões de curta duração, também conhecidas como “bate e volta”, em que o ônibus é o principal meio de transporte, incluindo-se, aqui, os ônibus clandestinos. Os viajantes hospedam-se, principalmente, na residência de amigos e parentes como forma de baratear os custos. Eles mesmos organizam as viagens e, se utilizam operadores, são informais. As viagens são pagas à vista em 92% dos casos.

Embora as zonas rurais estejam às margens das cidades, a uma distância curta ou média dos residentes urbanos, mesmo assim são elas destinos pouco frequentados pelos turistas populares, ainda que eles desejem também passear ou descansar.

Na realidade, é, em grande parte, também o lazer, o motivo daqueles que viajam para visitar parentes amigos, pois a hospedagem gratuita, fornecida por seus conhecidos, é determinante para a escolha do destino.

A dificuldade de crédito para os turistas de baixa renda, comprovada pelo fato de que a grande maioria (92%) paga suas viagens à vista, pode restringir o consumo do turista de baixa renda quanto aos pacotes turísticos e ser preponderante na seleção do destino turístico.

Em se tratando de acessos e transportes para zonas rurais, muitas localidades têm acesso precário e/ou não são servidas por linhas de ônibus regulares, o que dificulta a chegada do turista popular a essas áreas.

Um desafio que se apresenta aos planejadores do turismo, para compatibilizar o público de baixa renda ao TRAF, é adequar o fluxo intensivo de turistas do turismo social, semelhante ao “de massa”, com a baixa capacidade de carga exigida pelo turismo rural, evitando, assim, os efeitos negativos do turismo no meio rural. O fato de que se hospedam em sua maioria em casas de amigos e parentes quando viajam é um indicativo de que é possível pulverizar grupos grandes por uma localidade, dividindo-os pelas unidades familiares rurais locais. Quebrar-se-ia, talvez, o aspecto da socialização do grupo, mas seria compensado pelo início de um novo relacionamento: o do turista popular com a família rural anfitriã.

A informalidade com que se organizam e se contratam as viagens dificulta o monitoramento e o controle dos serviços prestados, comprometendo a segurança e a satisfação pessoal na fruição da viagem. Trazer para a formalidade todo esse conjunto de atividades exigirá normatização, capacitação e profissionalização do setor. Corre-se o risco de que esse processo venha a encarecer os produtos turísticos finais, devendo haver, por isso, uma contrapartida do setor público no sentido de incentivar a legalização e a profissionalização do segmento de turismo popular.

Fazer chegar ao público de baixa renda informações sobre o TRAF, melhorar o acesso e o transporte público em zonas rurais, viabilizar crédito para o turismo popular são articulações que a REDE TRAF deve fazer por todo o sistema de gestão para conquistar esse pungente segmento de demanda, levando mais renda e emprego ao campo.

Cruzando os dados do INCRA (2005) com os da pesquisa do MTur/IBAM (2006), conclui-se que, em razão do número crescente de famílias assentadas, poderá haver um aumento progressivo da oferta do produto TRAF, se bem trabalhada pela REDE TRAF.

Há um segmento de demanda pouco explorado, composto pelas classes “C” e “D”, que, apesar de incipiente, já mostra ter capacidade de consumo com gastos de 3,8 bilhões de reais (2003) em viagens (4,5 bilhões se corrigidos para 2005). Falta compatibilizar a crescente oferta com esse novo consumidor turista.

A agricultura familiar vem crescendo de importância no agronegócio e na sustentabilidade do espaço rural brasileiro, já que dinamiza a economia do campo, trazendo renda e gerando emprego.

Entretanto há espaço para os pequenos agricultores familiares que provaram a eficiência no uso intensivo do solo, superando a agricultura patronal em pecuária suína, feijão, milho, tomate, laranja, etc. Os benefícios sociais são, porém, maiores na agricultura familiar, pois se geram sete vezes mais empregos por unidade de terra.

O turismo EcoRural, praticado e preconizado pela Fazenda dos Cordeiros, nos moldes adotados pela França, fortalece a agricultura familiar como mais uma opção de renda, ajudando a compensar as perdas e quedas de produção agrícola, ocasionadas pelas intempéries naturais.

Como consequências da atividade turística na agricultura familiar, têm-se a valorização do homem do campo e sua cultura, a preservação do ambiente natural, o resgate das raízes rurais brasileiras e a integração campo/cidade.

Aumenta-se a conscientização socio ambiental tanto daqueles que vivem da terra, como daqueles que a visitam, construindo um relacionamento de respeito entre homem e natureza, cidade e campo.

O efeito distributivo da renda, causado pelo turismo, irriga a zona rural com o capital urbano deixado pelos turistas gerando mais postos de trabalho e ajudando a desacelerar o êxodo rural. Nesse sentido, o turismo serve como estratégia de suporte ao desenvolvimento sustentável do espaço rural brasileiro.

Acreditamos que mesmo em tempos de COVID, o número de unidades de agricultura familiar continuará a crescer em consequência da aceleração do TRAF em terras a milhares de famílias em todos os biomas brasileiros.

Ao mesmo tempo, desponta um importante segmento consumidor, composto pelas classes de baixa renda, que se encontra quase totalmente na informalidade do turismo e que pouco se utiliza dos produtos do turismo rural na agricultura familiar.

Harmonizar esta oferta com a demanda do turismo popular é um desafio aos turismólogos, operadores de turismo, gestores públicos e da REDE TRAF.

A Fazenda dos Cordeiros sabe que nem todos as propriedades têm o perfil ou desejam dedicar-se à atividade turística que exige sociabilidade, dedicação, vontade em quebrar paradigmas e aprendizado contínuo.

Sabemos que o turismo EcoRural não é a “salvação da lavoura” para os pequenos agricultores familiares, mas como uma atividade que, se bem trabalhada, lhes trará bons dividendos socioeconômicos e melhoria na qualidade de vida no campo.

Uma fazenda que Recebe!

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