TRAF, eu quero!

Categoria: Parceiros

O Turismo EcoRural é um dos pilares de sustentabilidade da Fazenda dos Cordeiros. Ao comercializamos paisagens, lugares e “bem estar” o Turismo EcoRural se manifesta também como um fenômeno que produz implicações socioespaciais, tais como; culturais, ambientais, políticas, etc.

A Fazenda dos Cordeiros trabalha em torno da ideia de um turismo sustentável, ou durável como dizem nossos parceiros da ADT na Alsace, França.

Acreditamos no Turismo Rural na Agricultura Familiar – TRAF, partindo de uma abordagem geográfica e do debate contemporâneo em torno das experiências empírica do Turismo Rural, onde estabelecemos uma relação com o a retórica presente na exacerbação do turismo como vetor de desenvolvimento sustentável, com as implicações do TRAF.

Na Fazenda dos Cordeiros trabalhamos pela concretização do TRAF no Circuto EcoRural de Silva Jardim, baseados na proposta teórico-metodológica de Milton Santos (1996), procuramos, a partir do lugar, apreender a influência de fenômenos de outras escalas geográficas até a global. Para tanto, aplicamos alguns conceitos trabalhados por Santos, situação e periodização para a delimitação do objeto de pesquisa; e verticalidades, horizontalidades e intencionalidades, entre outros, no estudo empírico.

Percebemos que Silva Jardim já oferta lazer e turismo mesmo sem a efetivação do Circuito, porém, com poucas exceções, não se encontra organizado como um produto turístico.

Silva Jardim pode ser considerada um destino turístico com muito potencial. Temos o Mico Leão Dourado, a AMLD, parceiros como a Universidade de Breda e a UNIRIO, diretamente envolvidas com essa temática, o COMTUR criado pela Prefeitura Municipal e muitas outras boas inciativas privadas e do terceiro setor, como a própria Fazenda dos Cordeiros, o recém criado Parque do Mico Leão Dourado e o BikeTour da Geladeira Cultural Gean Calvi.

Com a criação do COMTUR em 2006, a prefeitura deveria atuar no planejamento e na gestão do Turismo, e identificar novos atores sociais com intencionalidades distintas, e com verticalidades que passam a influenciar as horizontalidades e o espaço banal.

Dos muitos empreendimentos existentes em Silva Jardim e que poderiam participar do COMTUR e nosso Circuito EcoRural, alguns são propriedade de agricultores familiares e administrados por eles. Apesar da ênfase que damos aos agricultores familiares como maiores beneficiários, verificamos que os empreendedores com maiores chances de benefícios e lucros, são aqueles provenientes do Rio de Janeiro, e que não possuem identidade de agricultor.

Tais atores exógenos ao lugar disseminam objetos, ações e valores verticais, que se chocam e acabam coexistindo com os objetos, as ações e os valores horizontais.

Nesse jogo de ações e intencionalidades, surge uma diversidade de situações, que, por um lado, levam os agricultores familiares a se adaptarem às exigências dos novos serviços a serem por eles prestados.

Um grupo de alunas da Universidade de Breda desenvolveu um trabalho para adequação dessas diferenças, de forma a incorporarem uma racionalidade econômica global, mas por outro, permitirem a estes, fazer valer suas estratégias e posições em torno da gestão do empreendimento, da unidade de produção e vida familiar.

Sabemos que o Turismo é uma atividade que vem se expandindo vertiginosamente a partir da década de 1950, em virtude dos avanços técnicos – sobretudo nos transportes e nas comunicações, bem como das conquistas trabalhistas que ampliaram o poder de consumo e o tempo livre para a classe trabalhadora.

Becker (1996) indica que o turismo, a partir do final do século XIX, tornou-se gradativamente um novo produto de acumulação de capital, capaz de transformar e produzir espaços. Foi, porém, em meados do século XX que o turismo se expandiu de forma significativa, em função da política do wellfare state, da regulação do trabalho, do acesso a férias, da aposentadoria, dos transportes, e, portanto, da consolidação do consumo em massa pela sociedade.

Ouriques (2005) também relaciona o turismo contemporâneo ao acelerado crescimento econômico do pós-guerra, responsável pela melhoria do padrão de vida dos trabalhadores, criação de uma civilização do automóvel, redução do tempo de trabalho e consolidação de uma indústria do lazer. Por conseguinte, o lazer e o turismo tornaram-se atividades econômicas lucrativas e com efeitos multiplicadores1, de modo que a criação e a organização de destinações turísticas passaram a ser incentivadas e efetivadas em diversos países, contribuindo para a afirmação do processo de globalização.

Assim como na Fazenda dos Cordeiros, o Turismo se constitui em um pilar da globalização, pois o aumento das destinações turísticas e o fortalecimento do trade turístico contribuíram para a cristalização da globalização no imaginário da sociedade. Ao mesmo tempo, o turismo foi beneficiado pelo processo de globalização da economia e das técnicas, responsáveis pelo rápido crescimento das viagens no mundo, e, consequentemente, pela significativa receita proveniente do turismo.

A maior rapidez das informações através das redes de comunicação por satélite; a popularização do computador, da internet e de outros instrumentos tecnológicos; a ascensão do poder das corporações transnacionais em detrimento da soberania dos Estados nacionais; além da volatilidade e da virtualidade do capital financeiro frente ao capital industrial, são eventos responsáveis por transformações no modo de produção, circulação e comercialização de mercadorias, com consequências na economia mundial, nos ecossistemas e na cultura das mais variadas etnias do mundo.

Tais mudanças se refletem no espaço geográfico de forma heterogênea e distinta, porém os agentes e as ações responsáveis pela produção do espaço na escala global são relativamente homogêneas, ou seja, compostos pelos atores hegemônicos do sistema capitalista..

De maneira geral, estamos presenciando o poder das empresas, conglomerados e corporações de capital transnacional, nos países centrais, bem como nos periféricos, seja na indústria, agricultura, comércio ou serviços.

Um exemplo dessa apropriação espacial da periferia pelo centro se dá nas paisagens exóticas e de interesse para a atividade turística, mediante uma série de investimentos em infraestrutura, e novos equipamentos e serviços turísticos , como os resorts, hotéis, restaurantes, operadoras, empresas aéreas, etc. Não queremos um McDonalds no Turismo Rural.

Nesse sentido, o turismo se insere como mais um elemento que contribui para a apropriação do espaço pelos agentes hegemônicos do capitalismo globalizado, de modo que muitos símbolos do turismo são símbolos do poder do capitalismo.

Apesar da grande ênfase que se atribui ao turismo como atividade que gera riqueza, o retorno econômico decorrente do turismo é relativo e deve ser questionado, pois é comum a má distribuição dos lucros e dos benefícios advindos dessa atividade, lucros e benefícios geralmente centralizados nos empresários com maior poder de investimento, muitas vezes provenientes de fora dos lugares que se tornam destinações turísticas.

Outro elemento de destaque reside nos baixos salários pagos pelo setor do turismo aos seus empregados, enquanto a maior parte dos lucros fica com os investidores e empresários.

Além das implicações econômicas, o turismo também carrega consigo diversas transformações socioespaciais de ordem sociocultural, política e ambiental. O turismo não é, portanto, responsável somente pelo intercâmbio econômico e geração de divisas, mas principalmente pela produção e pelo consumo do espaço geográfico, envolvendo aspectos como a transformação de paisagens, de ecossistemas e de manifestações culturais em mercadoria; e também é responsável pelo estabelecimento de novas relações sociais, levando a mudanças nos territórios e nas territorialidades.

Outro fator preponderante do turismo reside no debate sobre globalização/fragmentação e sobre padronização/singularidades. As destinações turísticas, apesar de possuírem atrativos diferenciados, costumam ser padronizadas pelo trade turístico, em relação à infraestrutura, equipamentos e serviços turísticos.

Na Fazenda dos Cordeiros os turistas buscam, paisagens singulares que lhes proporcionem “novas” experiências, de modo que possam ser preservados, pois se constituem no principal elemento de motivação para os visitantes.

Assim, cria-se uma contradição entre os atrativos do lugar, que podem ser singulares e até únicos, e a organização do trade para viabilizar o turismo em Silva Jardim e atrair turistas de todo os lugares, fato que contribui para a padronização da infraestrutura e dos serviços turísticos e que pode afetar os próprios atrativos.

A mobilidade populacional e a alta receita gerada pela atividade turística, juntamente com as transformações e os impactos socioespaciais ocorridos nas destinações turísticas, despertaram o interesse pela realização de pesquisas relacionadas ao turismo nas mais diversas áreas do conhecimento.

Além dos turismólogos, que têm a função de planejar, produzir e promover o turismo, profissionais de outras disciplinas passaram a considerar o turismo e seus reflexos em suas pesquisas, como sociólogos, administradores, economistas, biólogos, geógrafos, antropólogos, pedagogos, etc.

Considerando o turismo como atividade econômica responsável por uma grande circulação de pessoas, mercadorias e dinheiro, que comercializa paisagens e lugares em todo mundo, e, por conseguinte, produz e transforma territórios e o próprio espaço geográfico, vários geógrafos vêm debruçando-se sobre o estudo da relação entre Geografia e Turismo, através de abordagens teórico-metodológicas provenientes das ciências humanas e da apreensão das implicações do turismo na organização espacial.

Adyr B. Rodrigues (2001) defende a interdisciplinaridade nas abordagens sobre o turismo, e destaca o papel da Geografia no contexto, pelo fato de esta lidar com a dualidade sociedade x natureza.

Luchiari (2002) sugere aos geógrafos analisar o turismo para além de sua dimensão econômica, procurando apreender como o turismo modifica o território, a territorialidade e, consequentemente, o espaço geográfico.

Rodrigues (2001) ainda destaca os núcleos receptores como o local onde se produz o espaço turístico. A produção do espaço nas destinações turísticas seria, portanto, o objeto de interesse dos geógrafos dedicados ao turismo.

Apesar de o espaço turístico não ser produzido apenas localmente, pois existem influências de normas, objetos e ações de outras escalas espaciais em qualquer destinação turística, concordamos que os núcleos receptores se apresentam como um lugar de interesse para abordagens geográficas em torno do turismo.

Como os geógrafos se detêm no estudo das complexas relações entre sociedade e natureza, o enfoque geográfico no turismo amplia-se a partir da década de 1990, em virtude do crescimento de pesquisas e de constatações em torno das consequências negativas do turismo nas áreas do litoral brasileiro, e da ebulição do debate sobre o grande potencial turístico do Brasil.

Como já apontado por Coriolano (1989), por Rodrigues (1997b) e por outros autores brasileiros e estrangeiros, o turismo, apesar de ser uma importante fonte de divisas em diversas localidades, apresenta consequências sociais e ambientais geralmente maléficas para as comunidades residentes nas áreas receptoras, sobretudo as mais carentes. Essas consequências, também chamadas de impactos, modificam a dinâmica socioespacial e, portanto, são passíveis de análises geográficas.

Levando em consideração que o fenômeno do turismo é agente de produção/transformação e consumo do espaço, entendemos ser pertinente a crescente preocupação da Geografia com tal questão.

As pesquisas sobre a relação entre Geografia e Turismo mostram-se bem variadas, porém há um enfoque maior para os estudos de caracterização, diagnóstico e análise dos impactos socioambientais e das implicações espaciais em áreas com desenvolvimento efetivo e potencial do turismo.

De maneira geral, o interesse dos geógrafos em analisar o turismo ocorre, sobretudo, por dois fatores: primeiro, porque o turismo se expande significativamente no mundo, apresentando-se como uma atividade que gera renda (para poucos), altera significativamente a paisagem, os territórios e o espaço geográfico, e tem como principal matéria-prima os elementos da natureza (praias, rios, florestas, desertos, montanhas, canyons, entre outros); segundo, pela popularização da ideia de que o turismo seria uma atividade vinculada ao desenvolvimento sustentável, e que deveria ser incentivado no Brasil, em virtude do amplo potencial de paisagens e ecossistemas existente.

Permeando esses dois fatores, destaca-se o papel do incentivo ao turismo para a expansão do capitalismo. Na década de 1950, a nova fronteira de expansão do turismo ocorreu nas áreas litorâneas, com predomínio do modelo sol e praia, responsável pela urbanização de várias praias em função da rápida e massiva ocupação destas por empreendedores e, posteriormente, pelos turistas. Esse tipo de turismo trouxe impactos socioambientais para as áreas receptoras, passando a ser denominado turismo de massa, caracterizado pela alta concentração de turistas, e condenado por pesquisadores.

Já na década de 1990, a indústria do turismo passa a se interessar pela exploração de áreas “naturais”, abrindo novas possibilidades de acumulação por meio do ecoturismo e de outras formas de turismo ditas alternativas/sustentáveis, como o turismo rural, o ecoturismo, o turismo histórico-cultural, entre outros.

Apesar do claro interesse por novos mercados, a retórica a respeito dessa transição para um turismo alternativo/sustentável que os impactos negativos do turismo “sol e praia” (degradação ambiental,conflitos socioculturais, segregação espacial, urbanização acelerada, etc.), são vistos como decorrentes do mau planejamento e da má gestão do turismo, enquanto o ecoturismo e outras modalidades passam a ser propagados como formas de turismo que, além de causarem menos degradação ambiental e menos conflitos sociais, contribuiriam para a dinamização econômica de territórios, para a conservação dos ecossistemas e para a valorização da diversidade cultural, desde que fossem bem planejadas e geridas, com base nos princípios do desenvolvimento sustentável.

Assim, nos últimos anos, o turismo vem sendo divulgado e promovido em todo o Brasil, sobretudo em virtude do potencial natural e paisagístico existente no país.

Muitos defensores do turismo usam o discurso de que tal atividade apresenta poucos impactos socioambientais e amplia a geração de emprego e renda. Pesquisas da Geografia e de outras ciências humanas vêm demonstrando, no entanto, que esse otimismo é relativo, pois o turismo desencadeia diversas transformações espaciais e territoriais, transformações que geralmente trazem mais problemas do que benefícios para as comunidades residentes.

Influenciados pela popularização do ambientalismo e da ideia de desenvolvimento sustentável, muitos pesquisadores, a partir da década de 1990, passam a discutir possibilidade de uma organização planejada da atividade turística, organização que, além do lucro, priorizasse também variáveis de conservação ambiental e a redução das desigualdades sociais, por meio de uma gestão territorial compartilhada através do envolvimento participativo das comunidades autóctones nos processos de planejamento, geógrafos em relação a práticas de turismo que respeitem as culturas e os ecossistemas locais, bem como o aumento de estudos e pesquisas sobre as implicações socioespaciais do turismo.

Existem, contudo, diversas pesquisas que apresentam uma visão romântica e irreal do turismo, ao vê-lo como a grande saída para a estagnação econômica, e acreditar que basta planejamento e vontade política para minimizar ou até solucionar seus problemas. Buscando sintetizar as linhas de interpretação e análise do turismo, Ouriques (2005) relaciona quatro correntes. A primeira, chamada de economicista/liberal, tem uma visão otimista do turismo e preocupa-se com seus aspectos econômicos; a segunda defende o desenvolvimento do turismo planejado pelo Estado, acreditando no planejamento como caminho para alcançar um “turismo sustentável”; a terceira, denominada pós-moderna, caracteriza-se pela crítica ao turismo de massa e pelo elogio à diferenciação do mercado turístico e ao turismo alternativo, acreditando no turismo como promotor de desenvolvimento; e a última corrente, pautada em enfoques críticos do turismo, enfatiza o consumo e a produção destrutivos da atividade turística. Segundo Ouriques (2005), essa linha crítica questiona o “[...] caráter intrinsecamente benéfico do desenvolvimento turístico, discutindo as transformações que ocorrem na (re)produção da vida das comunidades receptoras."

Precisamos de ajuda pra formatação do Circuito EcoRural de Silva Jardim, acreditamos que uma abordagem ligada à corrente crítica, pois estamos questionando todo um discurso dos benefícios potenciais do Turismo convencional pra Silva Jardim.

Com base na apreensão da experiência empírica adquirida com as participações da UNIRIO e da Universidade de Breda, podemos estabelecer uma relação com o debate teórico, no sentido de contrastar a retórica presente na exacerbação do turismo como vetor de desenvolvimento sustentável, com as implicações do TRAF.

Entendemos que, antes de formatar o novo Circuito EcoRural de Silva Jardim, é preciso analisá-lo de forma crítica, constatando empiricamente suas implicações socioespaciais, e relacionando-as ao debate teórico.

Sabemos que a maioria das pesquisas e estudos indica que o turismo pode contribuir para o desenvolvimento, e, portanto, se preocupa em planejar sua implantação com o objetivo de reduzir seus impactos negativos, contribuindo assim para a expansão e a disseminação da atividade turística.

Queremos parceiros comprometidos em analisar as implicações socioespaciais do turismo, sem a preocupação de promovê-lo, mas objetivando conhecer aspectos positivos e negativos, e entender as contradições existentes em seu desenvolvimento.

Precisamos de pesquisas com análise do potencial de recepção e organização de destinações turísticas, os impactos socioespaciais desencadeados pela atividade, as transformações espaciais, econômicas, culturais, políticas e ambientais do turismo nas destinações.

Temos conhecimento de trabalhos científicos, que, uma boa parte entende o planejamento e a criação de modalidades alternativas de turismo como contribuição para reduzir os impactos, e passam a incentivar e promover a abertura de áreas destinadas ao lazer e ao turismo. Por outro lado, existem pesquisas voltadas a apreender as implicações do turismo, que percebem a interdependência entre interesses do capital globalizado e de seus agentes hegemônicos com as manifestações do turismo nos lugares, questionando a viabilidade dos discursos que promovem o turismo como vetor de desenvolvimento sustentável.

Além da relevância das parcerias para as pesquisas críticas sobre as implicações socioespaciais do turismo por parte dos geógrafos, sentimos a necessidade da ampliação do debate frente o turismo dito convencional, pois percebemos ser salutar a busca por abordagens que contribuam para fundamentar os fatos promotores do Turismo.

A Fazenda dos Cordeiros trabalha e acredita em todas as modalidades de turismo contemporâneo, principalmente o turismo no espaço rural, que não é coisa de agora, pois remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial. Diferente do turismo sol e praia, que se constituiu na modalidade mais disseminada de turismo, responsável pela urbanização de praias, grande aglomeração de pessoas e, consequentemente, diversos impactos socioespaciais, o turismo no espaço rural sempre teve como principal característica uma oferta de equipamentos e de serviços mais simplificada, e uma demanda menos concentrada e com motivações distintas dos turistas das praias.

O Turismo Rural teve um crescimento concentrado na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 1960, o turismo ganha força na discussão sobre desenvolvimento rural em vários países no início da década de 1990, período em que cresce o fenômeno da pluriatividade no espaço rural, pois, além da maior diversidade de atividades agropecuárias, são adicionadas novas atividades não agrícolas (indústrias, condomínios residenciais, áreas de lazer e turismo), e intensificadas diversas atividades para agrícolas que agregam valor aos produtos in natura e processados.

Esse contexto do rural contemporâneo vem diversificando as ocupações e a renda da população rural, e levando a implicações socioeconômicas e a mudanças no uso e na ocupação do espaço rural.

Além da pluriatividade, aspectos como a segurança alimentar; a conservação de paisagens, de ecossistemas e de agro ecossistemas; e a reprodução das famílias rurais passam a ser utilizados para justificar as múltiplas funções que o agricultor familiar desempenha, e para reafirmar seu papel na sociedade. Desta forma, o conceito de multifuncionalidade, incorporado na discussão sobre desenvolvimento rural na Europa, também contribuiu para a popularização da retórica do turismo rural como alternativa de desenvolvimento local/sustentável.

Adicionado às políticas públicas de promoção do desenvolvimento rural endógeno que incentivam a expansão do turismo rural, como é o caso dos Programas LEADER da União Europeia, o crescimento do turismo no mundo, decorrente da crescente territorialização do capitalismo, cria condições para que novos espaços antes ignorados pelo capital passem a ser valorizados como mercadoria, e preparados para receber o turismo.

Assim, paisagens “naturais e artificiais”, o meio rural, manifestações culturais, pratos gastronômicos, entre outros elementos, são transformados em atrativos turísticos e passam a ser consumidos em um movimento de mercantilização de elementos da natureza, e de invenção de novos atrativos que muitas vezes nada têm a ver com a natureza ou a cultura característica do espaço rural.

Concomitante ao crescimento do turismo, aumenta também a competição entre os lugares por receita e emprego, competição chamada por Milton Santos (1996) de guerra dos lugares9. Ao mesmo tempo em que temos a padronização de equipamentos e serviços turísticos (hospedagem, alimentação, transportes, atividades), percebemos esforços no sentido de atribuir diferenciais entre os lugares, pois hoje o singular se torna um atrativo.

Nesse contexto, as áreas receptoras procuram resgatar e, principalmente, reinventar suas tradições e identidades locais, pois, como existe competitividade no turismo (assim como em todos os negócios), as singularidades são valorizadas pelo capital.

Como propõe Harvey (1989), as imagens do lugar e a tradição local são forjadas para atrair capital. “A imagem de lugares e espaços se torna tão aberta à produção e ao uso efêmero quanto qualquer outra imagem.”

Assim, a aparência/forma passa a ser mais importante que a essência/conteúdo, pois é a imagem que atrai. Com a inserção de áreas “naturais” e “rurais” na oferta de atividades de lazer e turismo, ocorrem transformações socioespaciais em virtude da instalação de infraestrutura e de equipamentos para atender os turistas, da oferta e da procura por empregos, das mudanças nas atividades e no modo de vida dos habitantes do campo envolvidos com o turismo, do deslocamento de pessoas “de fora” para conhecer e consumir esses espaços que até então eram pouco valorizados e pouco conhecidos, do contato entre populações autóctones e turistas, entre outros aspectos.

A própria identidade/territorialidade da população local também pode mudar em função da valorização do espaço por atores exógenos, e da “invasão” dos turistas no lugar.

Mesmo com o forte discurso de viabilidade e benefícios do turismo em áreas “naturais” e “rurais”, acreditamos que estas vêm sendo exploradas de forma exógena e indiscriminada, fazendo com que a população local seja a maior afetada e prejudicada com a inserção do turismo e dos turistas.

O conceito de turismo no espaço/meio rural também carrega um forte viés geográfico, pois tem uma delimitação espacial. Por isso, ele permite identificar modalidades e situações heterogêneas, que normalmente são percebidas e comercializadas como homogêneas e autênticas do campo/rural e do contato com a natureza, dando a impressão de um bucolismo e de um retorno ao passado ou às origens.

A Fazenda dos Cordeiros defende o TRAF como Turismo no espaço rural, no que diz respeito à ênfase que é dada a este como uma modalidade de turismo doméstico de base local, isto é, um turismo mais voltado à população regional e local do que à demanda internacional.

O turismo de base local vem sendo discutido e incentivado no Brasil como um turismo diferenciado, de baixo impacto, comprometido com o desenvolvimento local e com as populações autóctones. Entre os estudiosos do turismo de base local, e mesmo nos órgãos oficiais de turismo como a OMT- Organização Mundial do Turismo, há um forte viés na idéia de um turismo sustentável e na busca por esse turismo que geraria menos impactos e contribuiria para o desenvolvimento local/sustentável.

Considerando o pioneirismo da Fazenda dos Cordeiros, a experiencia adquirida nos últimos 20 anos e os trabalhos realizados pela Breda e UNIRIO, perguntamos qual seria a importância do turismo como fenômeno de produção, consumo e transformação espacial, para o crescimento sustentável de Silva Jardim?

  • Quais seriam os atores sociais para o planejamento e promoção do turismo no meio rural
  • Quais são as implicações socio espaciais deste tipo de atividade?
  • Como o turismo rural de base local é ou pode ser uma atividade sustentável?
  • Qual é a legitimidade do turismo rural como atividade que fortalece a identidade e a autonomia dos agricultores familiares?
  • Quais são as implicações do turismo rural para o agricultor familiar envolvido na oferta de atividades de lazer e de turismo no espaço rural?

Que a Universidade de Breda volte com seus alunos, que a UNIRIO crie caminhos pra financiar dias de campo e pesquisas, que a UERJ e UENF se engajem no Movimento Silva Jardim Sustentável, que a AMLD consiga recursos para formatação do nosso Circuito EcoRural e que não nos falte animo e boas políticas públicas para o fortalecimento do TRAF em Silva Jardim, no Brasil e no mundo.

Uma fazenda que Recebe!

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