A caminho do turismo EcoRural

Foro aérea da Fazenda dos Cordeiros imersa na Mata Atlântica - Turismo EcoRural - Silva Jardim - RJ
Foro aérea da Fazenda dos Cordeiros imersa na Mata Atlântica - Turismo EcoRural - Silva Jardim - RJ

Na Fazenda dos Cordeiros temos o propósito de trabalhar e discutir o Turismo EcoRural, como gostamos de chamar à luz da teoria da complexidade e ecológica de Fritjof Capra, tendo em vista a necessidade de uma abordagem que privilegie uma visão global, em detrimento do pensamento parcial e fragmentado, afinal, vivemos em um sistema complexo.

A forma adotada pela Fazenda dos Cordeiros reforça a necessidade de compreensão dos sistemas de Ecoturismo e Turismo Rural, orientado a partir da adoção de conceitos como a integração, a interação, a auto-organização e a complexidade, no intuito de desenhar um ambiente conceitual que conjugue unidade e diversidade no modo de fazer turismo e represente ao mesmo tempo a amplitude, a dinâmica, as particularidades e as idiossincrasias do segmento turístico.

O planejamento e a estruturação do Turismo EcoRural que se apresenta na Fazenda dos Cordeiros como ambivalente, plural e paradoxal, na medida em que se configura ora como uma resposta às novas demandas de lazer, uma novidade, uma aventura – ora como uma prática que se aproxima do trabalho diário e da vida cotidiana marcada por desafios, disciplina e tensão, principalmente no ambiente rural.

Sabemos que hoje um mundo no qual se amalgamam a natureza, a tecnologia,  e o capital, onde surgem novos pensamentos filosóficos, teorias científicas e identidades culturais sob as influências da globalização, da aceleração e da instabilidade da vida não se harmonizam facilmente em todas as propriedades rurais, que desejam um pensar diferente para sua sustentabilidade.

No contexto desse quadro social, as transformações impostas pela economia do ócio e nas formas de lazer, adquirem notoriedade em consonância com as mudanças observadas com surgimento de novas demandas, em função da necessidade de satisfações, que proporcionem experiências personalizadas, fortes e intensas.

A Fazenda dos Cordeiros entende que as novas satisfações buscadas pelos novos consumidores são contidas, de acordo com Betrán (2003), por componentes de hedonismo, vitalismo e auto-realização que produzem excitação.

Essa prerrogativa do lazer contemporâneo por experiências marcantes encontra seu denominador comum no Turismo EcoRural praticado na Fazenda  através de práticas de atividades que proporciona o contato com a natureza e com o patrimônio histórico cultural,  suscitando emoções como o êxtase e a adrenalina.

Desse modo, as atividades desenvolvidas na Fazenda dos Cordeiros em parceria com os Silva Jardineiros apresentam uma resposta às novas demandas e está relacionada com a realização de atividades que se

contrastam ou se aproximam do trabalho diário e da vida cotidiana, pois a busca por viagens diferenciadas, por desafios é cobiçada na tentativa de descartar-se da rotina, de recarregar as energias, de aliviar o estresse, ou até mesmo como um aperfeiçoamento3 das habilidades de flexibilidade, rapidez e dinamismo que o mundo contemporâneo, instável e acelerado, exige.

Onde a Fazenda dos Cordeiros se alinha ao Pensamento do físico Fritjof Capra (1996) que defende uma visão ecológica e se afasta das visões mecanicistas e reducionistas de Descartes e Newton. Tal percepção justifica a adoção de suas idéias na presente reflexão, dado à aproximação com o paradigma da complexidade e à compatibilidade com a amplitude do Turismo EcoRural.

Capra expõe que se observa hoje uma revisão das concepções e das idéias nas ciências como parte de uma transformação cultural e social muito mais ampla, pois o paradigma que está retrocedendo gradativamente perpetuou o conhecimento por centenas de anos, durante os quais modelou a sociedade ocidental e influenciou o restante do mundo.

A nova visão apreende o mundo como um todo integrado e não como uma coleção de partes dissociadas. “A percepção ecológica reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades estão todos encaixados nos processos cíclicos da natureza” (CAPRA, 1996, p.25).

Apesar de adotar a expressão “ecológico” para designar o novo paradigma, Capra (1996) esclarece que a visão “ecológica” transcende a noção da totalidade e da interdependência das suas partes, ao denotar instantaneamente a inter-relação com o ambiente natural e social. Ademais, o sentido da palavra “ecológico” utilizada por Capra (1996) associa-se com o conceito de “ecologia profunda” da escola filosófica fundada por Arne Naess, no início da década de 70.

É pertinente destacar que esta abordagem “ecológica”, já na ciência do século XIX, ficou conhecida como “sistêmica”, e a maneira de pensar que ela sugere foi nomeada de pensamento sistêmico. Dessa forma, um sistema passou a significar um todo integrado cujas propriedades essenciais nascem das relações entre suas partes (CAPRA, 1996). As propriedades das partes, conforme enuncia o autor, não são propriedades intrínsecas, porém só podem ser entendidas em seu contexto. Tal compreensão pressupõe ao exercício de pensar sistêmico a característica de contextualização dos fenômenos no meio referente.

Entender o Turismo EcoRural defendido e praticado na Fazenda dos Cordeiros à luz da teoria da complexidade e da visão ecológica requer um esforço focado no todo complexo e nas inter-relações das partes que constituem e contribuem com esse trabalho, bem como no contexto em que ele se realiza.

Colaborar e organizar uma reflexão sobre a dinâmica do segmento Turístico EcoRural e do sujeito, o turista, é importante primeiramente destacar a notória problemática de definição deste nicho turístico, dada às contradições e imprecisões evidenciadas no mercado e na academia.

O principal conflito começa na dificuldade em unificar a percepção de EcoRural,  pois ela é particular e sua compreensão apresenta variações de indivíduo para indivíduo com base em suas histórias, tradições e culturas.

Swarbrooke et al. (2003) enfatiza que o caráter inovador de uma viagem necessita de uma abordagem extensiva, desobstruída das limitações contidas nos conceitos habituais.

Nesse sentido, considera-se a definição proposta por Millington et al. (2001) citada por Swarbrooke et al. (2003, p. 27), cuja viagem é vista como:

[…] uma atividade de lazer que ocorre em um destino original, exótico, remoto ou selvagem. Tende a ser associada aos altos níveis de atividade participante, especialmente em ambientes ao ar livre. Os viajantes têm a expectativa de enfrentar vários níveis de risco, emoções, tranqüilidade e de serem pessoalmente testados. Mais especificamente, eles são desbravadores de partes intocadas e exóticas do planeta e também estão em busca de desafios pessoais.

Observa-se, a partir desta abordagem conceitual que o Turismo EcoRural na Fazenda dos Cordeiros conjuga a atividade com o espaço onde esta se realiza (ambiente que proporcione a exploração e a descoberta) e o nível de dificuldade da ação a ser exercida pelo turista (expondo o desafio)  com as emoções que a viagem proporciona, a partir do risco e da condição incerta.

O ambiente rural, as atividades orgânicas nas agroflorestas, a produção de mudas de Mata Atlântica, as experiências sensoriais, a observação de ave fauna, as caminhadas botânicas e o Mico Leão Dourado dentre outras colocam a Fazenda dos Cordeiros na vanguarda do Turismo EcoRural.

Dessa forma, pode-se destacar como componentes da definição deste segmento turístico a necessidade de ação e de engajamento por parte do viajante, a exposição e a imersão em emoções fortes.

É preciso destacar que as ideias propostas pela Fazenda dos Cordeiros para o desenvolvimento de um Turismo Responsável em Silva Jardim, Rio de Janeiro possa não dar conta da totalidade de suas reflexões, em virtude da multiplicidade de temas inerentes ao contemporâneo nicho do turismo, mas são representativas de alguns desenvolvimentos teóricos corroborando para sinalizar a diversidade de aspectos que são pertinentes à discussão do Turismo e que não são facilmente percebidos.

A reflexão acerca do Turismo EcoRural fundamentada na dialógica do paradigma da visão ecológica, numa concepção para além das obviedades aparentes, reducionistas, conduz a um olhar que transcende as características mercadológicas (oferta demanda), um olhar da amplitude do fenômeno.

Na perspectiva do pensamento ecológico complexo, ressalta-se da reflexão acerca do turismo responsável a produção de novas práticas corporais, que aliam experiencias, tecnologias e natureza; a aproximação do homem com a natureza, em virtude das vivências prevalecerem em ambientes naturais; a indução de um novo modelo de corporeidade, haja vista que o corpo

é percebido não só como um meio para alcançar um objetivo, mas também como um fim em si mesmo; a exacerbação dos sentidos, através da experimentação do ambiente natural que proporciona sensações olfativas, táteis, visuais, auditivas; a exposição ao meio, como forma produção de emoções fortes; a construção de novas formas de sociabilidade, pois indivíduos

heterogêneos convivem em prol da experiência qualificada e segura do grupo; como aspectos fundamentais para a concepção de uma reflexão que responda às suas particularidades e idiossincrasias.

A partir de um olhar orientado para a totalidade e complexidade do fenômeno, a Fazenda dos Cordeiros gostaria de estimular o pensamento para qual tipo de  Turismo queremos para Silva Jardim. Devemos observar a necessidade de reflexões, planejamentos e regulações que contemplem o múltiplo, o plural, o indefinido e o global que residem nas novas concepções do pensamento atual.

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