Turismo x Sustentabilidade

Categoria: Educacional

O setor de turismo já foi considerado na década de 60 a "indústria sem chaminés" e uma esperança de desenvolvimento econômico para países pobres.

Atualmente, está mais do que comprovado que o Turismo também degrada o meio-ambiente, pode gerar exclusão social e pobreza. Segundo Dias (2003), um destino turístico pode ter um boom de procura de um momento para outro, mas também pode entrar em decadência com a mesma velocidade com que cresceu.

O que fazemos na Fazenda dos Cordeiros para termos o Turismo EcoRural como um dos pilares da nossa sustentabilidade econômica, social e ambiental?

Sabemos que o turismo, mais do que as outra atividade desenvolvidas na Fazenda é muito dependente do planejamento e do contínuo monitoramento do aspecto geográfico onde se desenvolve. A massificação de um lugar turístico, assim, representaria um risco em grau máximo para a degradação do ambiente natural e a ruína do próprio turismo.

Nesse sentido, (RODRIGUES, 2000) manifestou-se contrário ao grande afluxo de pessoas aos recursos, alegando que "o turismo destruirá o turismo". Hetzer (1965) argumentou que, depois de terem arruinado o seu próprio ambiente, as pessoas que querem dispor de ambiente natural, aglomeram-se em outros locais para destruir o ambiente de outros em suas frenéticas tentativas de escapar, nem que seja por curto espaço de tempo, da pressão competitiva, poluição, crime e trabalho alienante ("corrida dos ratos"). Dias (2003) enfatiza que o impacto do turismo sobre o meio ambiente é inevitável.

Na Fazenda dos Cordeiros trabalhamos para mantê-lo dentro de limites aceitáveis, para que não provoque modificações ambientais e não prejudique o prazer do visitante ao usufruir dos nossos atrativos naturais, acomodações e pessoas.

Na Fazenda dos Cordeiros nem todas as mudanças geradas pelas atividades de turismo levam, à degradação, muito pelo contrário. Levadas a cabo de forma responsável, o Turismo EcoRural que praticamos contribui substancialmente para melhorar o ambiente, levar a um aumento de prazer do turista e assegurar a proteção ecológica.

Nesse contexto, a Fazenda dos Cordeiros volta-se para a análise da perspectiva sobre a sustentabilidade ambiental do turismo, abrangendo aspectos como legislação e atividade fiscalizadora do Estado, controle na taxa de ocupação, atividades relacionadas ao saneamento básico e à educação ambiental no local.

Quais são nossos principais desafios e ameaças para o meio ambiente e para a sustentabilidade do turismo no futuro da Fazenda dos Cordeiros, caso ações imediatas não sejam tomadas pelos gestores públicos, parceiros comerciais e comunidade local?

O termo "Desenvolvimento Sustentável" é relativamente novo, se comparado à duração da Revolução Industrial, a qual, no decorrer do período moderno, levou ao surgimento da expressão devido aos riscos que a atividade econômica industrial estaria levando a vida na Terra.

Mesmo com o desenvolvimento do termo por mais de três décadas, ele ainda está em construção e diversos autores estudam sua abrangência, destacando seus pontos mais importantes. Sachs (1986), por exemplo, destaca que uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico a longo prazo e ecologicamente consciente deve aspirar a minimização das retiradas sobre os estoques de recursos não renováveis e sugere padrões alternativos de crescimento organizados e instrumentalizados, de maneira a diminuir os impactos ecológicos negativos e o uso dos recursos exauríveis.

Para este autor, o desafio consiste na redefinição das formas e usos de crescimento e não na desistência do crescimento. Para isso, aponta a necessidade de serem estabelecidos processos de desenvolvimento em base sustentável, ressaltando que a tarefa exige uma gestão ecologicamente prudente dos recursos, cuja renovação seja limitada.

Intrínseco ao conceito de Desenvolvimento Sustentável, é defendido o Desenvolvimento Sustentável com base Local. Segundo Buarque (2002), o Desenvolvimento Sustentável Local é um processo endógeno, registrado em pequenos povoados, capaz de promover o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. Representa substancial mudança na organização social em nível local, resultante da mobilização das energias dos atores envolvidos, explorando as suas capacidades e potencialidades específicas. Neste sentido, estabelece ainda que:

  • [...] é o processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e as eqüidades sociais, partindo de um claro compromisso com o futuro e com a solidariedade entre gerações (BUARQUE, 2002).

Na concepção de Jará (1998), o Desenvolvimento Sustentável Local precisa orientar-se em três eixos fundamentais:

  • O primeiro propõe a democratização da vida social e a integração detodos os grupos sociais em torno de objetivos do desenvolvimento sustentável, mobilizando a sociedade, para que a gestão se faça de forma compartilhada. Trata-se de promoção das mudanças na cultura política, visando à transformação do conteúdo da gestão municipal, com novas formas de organização e integração social que contemplem a diversidade de atores e facilitem a concentração de interesses.
  • O segundo enfatiza a implementação de um conjunto de atividades estratégicas de desenvolvimento rural e comunitário, para combater a pobreza de grandes grupos populacionais e para ativar as pequenas economias, numa sociedade que dispõe de muitos recursos e potencial para criar um futuro melhor.
  • Já o terceiro eixo visa perseguir a proteção dos recursos naturais e promover o equilíbrio ambiental. Constitucionalmente, os municípios são responsáveis pela gestão ambiental, necessitando, para isso, monitorar o manejo sustentável dos recursos, de tal forma que as comunidades presentes e futuras possam conservar o patrimônio natural no longo prazo.

Jará (1998) questiona até que ponto as prefeituras e suas estruturas estão preparadas para orientar processos de Desenvolvimento Sustentável Local? O "desenvolvimento municipal" quase sempre é interpretado como processo de modernização, isto é, desenvolvimento institucional municipal, ou seja, aumento da capacidade de gestão pública para conduções eficientes, eficazes e efetivas das estratégias, programas e projetos de desenvolvimento.

Para que o processo de modernização do município obtenha resultados que agreguem valor ao processo de desenvolvimento local, é necessário um comportamento institucional orientado à aprendizagem contínua, buscando sempre o aperfeiçoamento, a saída do imobilismo e da inércia de seus quadros diretivos tradicionais.

A modernização da máquina sem introduzir mudanças em sua cultura organizacional e sem se colocar a serviço das demandas sociais locais, através de grupos organizados da sociedade municipal, não obterá resultados eficazes no processo de desenvolvimento local.

Com relação ao envolvimento das comunidades nas decisões de âmbito público, na concepção de Irving (2002), a resistência ao processo participativo parece ter sua explicação na cultura institucional brasileira e na percepção política de "participação" como divisão de poder nas esferas instituídas. Para a autora, "evidentemente que tal percepção é equivocada e, no mundo da globalização, no mínimo, de alto risco":

O poder público não é mais capaz de assumir, por si mesmo, responsabilidades que historicamente concentrava, e a reforma administrativa em curso nos últimos anos torna inviável a repetição dos modelos do passado. Nesse contexto, apenas por meio do processo participativo será possível tanto o funcionamento da dinâmica socioeconômica do país como o exercício pleno da cidadania e a legitimação de estratégias de desenvolvimento conjuntamente construídas (IRVING, 2002).

Contudo, a referida autora atenta ser lento o processo de desenvolvimento de uma localidade pela participação comunitária e, assim, resultados de curto prazo não podem ser esperados. No entanto, "a garantia ética de sustentabilidade do processo, que parece expressar a perspectiva central do conceito de desenvolvimento sustentável, estará certamente assegurada e qualquer que seja o rumo para a região, ele tenderá a refletir as expectativas e demandas locais" (IRVING,2002)

Para os gestores da Fazenda dos Cordeiros o processo de desenvolvimento local, o turismo não pode ser uma atividade única, devemos fortalecer todas as atividades econômicas, sobretudo, a agricultura e o artesanato local para assegurar a sustentação do turismo; assim, o turismo é e será apenas mais uma opção econômica. Entendemos que as pessoas são os principais  ativos do Turismo e consequentemente a satisfação da própria comunidade em que vivemos.

A Fazenda dos Cordeiros acredita que não há lugares iguais. O modelo de turismo que se vem implementando teima em homogeneizar lugares, paisagens e culturas. Os shoppings são iguais em todos os lugares do mundo. Os lugares globalizados tendem a homogeneização. O turismo lamentavelmente vem seguindo este mesmo modelo quando deveria respeitar as diferenças (CORIOLANO, 1999).

Grünewald (2003) aborda a mudança cultural percebida em sociedades hospedeiras em consequência do impacto do fluxo turístico que promove diferenciações étnicas nestas sociedades. Quando os turistas buscam autenticidade em um local turístico e quando a autenticidade está ligada às sociedades tradicionais, a características culturais e ao seu próprio modo de viver, esta autenticidade estaria condenada pela própria presença dos turistas, e para o turista étnico, o turismo destrói a própria coisa que ele procura ver: o nativo intacto.

A Fazenda dos Cordeiros é parceira da Breda's University, que vem mediando o relacionamento entre turismo e etnicidade, e o Poder Público deveria ser uma destas instâncias. Segundo Grünewald (2003 apud NAGEL, 1996), em sendo o Estado uma instituição dominante na regulação de etnicidades, é importante não perder de vista a construção política da etnicidade através principalmente dos caminhos das designações étnicas oficiais, através da distribuição de recursos, através de regras e estruturas de acesso político.

Aprendemos com a turma da Breda que  o território, tempo, habitantes, cultura local, patrimônio, abertura ao mundo, lideranças, pactos e parcerias, programas e projetos articulados inteligentemente fazem o nosso desenvolvimento local ser diferenciado.

O Turismo EcoRural praticado na Fazenda dos Cordeiros está em concordância com o desenvolvimento sustentável local, o Turismo EcoRural pode ser visto como instrumento para a conservação e o desenvolvimento local de comunidades. O Turismo EcoRural abrange os princípios de turismo sustentável, levando em conta os impactos econômicos, sociais e ambientais do turismo.

Podemos afirmar que o Turismo EcoRural praticado na Fazenda dos Cordeiros é um segmento da atividade turística que se utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural de Silva Jardim, além de sua conservação, na busca e formação de uma consciência ambientalista, através da interpretação do ambiente e da promoção do bem-estar das populações envolvidas. As áreas do Turismo EcoRural também incluem comunidades e precisamos estudar as formas de conservar as tradições e as identidades culturais locais e o modo de levar benefícios a essas comunidades, por isso a importância das parcerias com as Universidades holandesa da cidade de Breda e a UNIRIO 

Para Fazenda dos Cordeiros as florestas em pé assumem um papel fundamental para o desenvolvimento do Turismo EcoRural, sendo, juntamente com as pessoas locais, nosso principal atrativo.

É preciso estudar e endender o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído pela Lei n. 9.985/2000, estabelece a seguinte definição para Unidade de Conservação: "Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias especiais adequadas de proteção". Entretanto, desde a primeira proposta do SNUC, em 1988, houve uma polêmica conceitual:

  • A corrente estritamente preservacionista, defendendo o isolamento das áreas naturais e sua manutenção sem nenhuma atividade antrópica, percebendo as populações locais como ameaça a integridade ecológica dessas áreas e defendendo, portanto, a sua remoção dos limites das UCs;
  • A corrente do grupo dos denominados socioambientalistas, pregando a convivência harmoniosa entre homem e natureza (principalmente em se considerando a existência de comunidades tradicionais na maioria das UCs.

Na Fazenda dos Cordeiros acreditamos que o Turismo EcoRural  desenvolvido em áreas protegidas representa, um dos nossos  maiores desafios ao compatibilizar os pressupostos de preservação ambiental, em áreas de elevado valor patrimonial em biodiversidade, com a operacionalização de desenvolvimento sustentável. Um dos problemas que enfrentamos no desenvolvimento do Turismo EcoRural diz respeito a homogeneização do conceito de unidades de conservação, o que resultar em problemas de difícil solução de gerenciamento. 

Para pensarmos coletivamente na criação de um Circuito de Turismo EcoRural em Silva Jardim é importante que esteja clara a distinção das tipologias de unidades de conservação e/ou restrições para o Turismo. Na terminologia adotada pela legislação vigente, as UCs de Uso Sustentável têm o objetivo de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos seus recursos naturais. Já nas UCs de Proteção Integral, o objetivo básico é preservar a natureza, sendo o uso indireto de seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos em lei. Mas, segundo a referida autora, ocorre que o Plano de Manejo, principal instrumento normativo e regulador das áreas protegidas, não está disponível para a maioria delas. 

A Fazenda dos Cordeiros acredita que o Turismo EcoRural pode ser considerado uma atividade econômica que promove a conservação dos recursos naturais e que valoriza econômica e financeiramente o patrimônio natural e cultural de Silva Jardim. Neste sentido, as atividades do Turismo EcoRural  podem e devem participar na conservação, da seguinte forma:

  • Diretamente por meio de geração de receitas advindas da sua operação e da oferta de outros serviços aos visitantes, a serem utilizadas diretamente na proteção, pesquisa e manutenção dessas áreas.
  • Indiretamente proporcionando à população local alternativas de renda em relação à exploração predatória e ilegal dos recursos naturais dessas áreas, com sua inserção nos serviços requeridos pela atividade ecoturística.
  • Permanentemente servindo como meio estratégico de disseminação da consciência ecológica e ambiental, ampliando a base social de apoio da conservação da biodiversidade e da natureza.

Para Fazenda dos Cordeiros, dentre outras barreiras para a consolidação da sustentabilidade do turismo em Silva Jardim existe a carência de pesquisas e informações sobre as áreas de preservação; o estabelecimento da capacidade de carga para visitantes; a limitação de recursos humanos qualificados para o ecoturismo; carência de infraestrutura de apoio ao ecoturismo; lacuna institucional para o próprio ecoturismo e a problemática do uso da Terra.

Precisamos de cooperação e parceiras pra identificarmos novos caminhos sustentáveis pra o desenvolvimento de atividades rurais adequadas com a qualidade de vida que queremos hoje, garantido o futuro das novas gerações.
O Turismo pode não ser a solução comum para as mais de 700 propriedades rurais existentes hoje em Silva Jardim...mas certamente uma pecuária insipiente em território acidentado com vocação pra produção de água e qualidade de vida, também não é.
 
Que voltem as Breda's e Miami University, UNIRIO, Estacio, UnigranRio, UENF, UERJ, PUC, USP/SP e que muitas outras se juntem ao nosso Movimento Silva Jardim Sustentável.

Uma fazenda que Recebe!

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   Estr. João Carvalho, 2800 - Imbau, Silva Jardim - RJ, 28820-000, Brasil

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