Na Fazenda dos Cordeiros os Sistemas agroflorestais fornecem proteção eficaz contra a erosão do solo, preservam recursos ambientais e limitam o impacto ambiental e a perda econômica
O conceito de Sistema Agroflorestal (SAF), surgiu com base nos princípios da permacultura e com a intenção de se produzir alimentos e combustíveis ao mesmo tempo em que protege a biodiversidade, combate a degradação ambiental e reduz os efeitos das mudanças climáticas, permitindo o uso multifuncional da terra. O método permite três abordagens básicas, que mesclam árvores e plantas nativas, cultura e criação de animais.
Na Fazenda dos Cordeiros produzimos alimentos baseados em técnicas tradicionais, aliando conhecimentos científicos de ecofisiologia vegetal e suas interações com a fauna, o clima e as comunidades que vivem em áreas próximas. Graças à complementaridade das espécias, os sistemas agroflorestais têm potencial de produtividade muito superior aos sistemas tradicionais (sem árvores), pois a competição por recursos (luz, água e nutrientes do solo, por exemplo) varia com relação a cada espécie.
A incorporação de árvores em sistemas de cultivo promove a criação de microclimas em faixas de proteção, o que é bastante favorável ao crescimento das plantas, já que a temperatura adicional do ar e do solo pode prolongar a estação de desenvolvimento, resultando em ganhos de crescimento e produtividade. Durante os períodos mais quentes, a presença de árvores e o efeito das sombras podem reduzir a perda de água do solo, limitando as taxas de evapotranspiração das plantas.
Em nosso Jardim Sintrópico, utilizamos os pilares da sustentabilidade como alicerces, considerando aspectos sociais, econômicos e ambientais, e todo o esforço se dá no sentido de utilizar os conhecimentos humanos e as técnicas de manejo à serviço da terra, e não o contrário, ou seja, adequar a produção ao espaço.
Segundo Ernest Goesch, a maior diferença entre as agroflorestas com relação às culturas tradicionais está em observar e escutar o que o local tem para oferecer.
“...Contrariando a lógica agricultural de plantarmos o que queremos comer, “corrigindo” o solo para que se adapte à nossa demanda. A agrofloresta inclui o humano como um catalisador dos processos florestais, que produz mais alimentos e acelera os processos de regeneração do solo. O agro floresteiro é um escultor, que decide onde ele gostaria que os raios de sol incidissem e, assim, organiza a produção de alimentos, que não servem apenas para os humanos, mas para todos os habitantes da floresta...”
Podemos citar como exemplo o manejo agro-florestal da Palmeira Jussara (Euterpe edulis), árvore nativa da Mata Atlântica, aqui na Fazenda dos Cordeiros. Sua existência é fundamental para o equilíbrio ecológico do bioma, e sua importância econômica fez com que entrasse na lista de espécies ameaçadas de extinção por conta da extração do palmito (prática considerada crime ambiental desde 1998 pela Lei 9.605).
Com a proibição, novos estudos e técnicas de manejo com base nos princípios agroflorestais estão sendo propostos para Fazenda e as comunidades do entorno. Nesse processo, descobriu-se a importância nutritiva do açaí, que possui maior valor nutricional e mais vitaminas e minerais, que sua prima irmã, açaí, típica do Norte do Brasil e do seu valor econômico.
O cultivo da Palmeira Jussara, além de gerar emprego e renda, evita a degradação ambiental, reduzindo os impactos socioambientais. Como atesta o produtor e pesquisador Germano Tedesco, que trocou a produção de maçãs na Serra Gaúcha pelo Juçaara, cuja importância foi tema de sua dissertação de mestrado.
“...durante a pesquisa, o encontro com comunidades rurais me fez ter conhecimento da carência de atividades econômicas que estivessem alinhadas com o estilo de vida dessas pessoas e que, ao mesmo tempo, pudesse desenvolver o potencial de jovens da região, que poderiam trabalhar com a extração dentro das terras protegidas. A partir disso, passei a analisar formas de introduzir o cultivo da planta nesses locais...”
Assim como a palmeira juçara, a Fazenda dos Cordeiros desenvolve SAF com cítricos e algumas frutas típicas de Mata Atlântica, ainda desconhecidas do grande público, tais como Gurumixamas (Eugenia brasiliensis) , Cambuizais, Araticuns e Aroeiras dentre outras.
As agroflorestas oferecem uma abordagem mais integrada e sustentável de gestão agrícola e proteção da natureza. Ao mesmo tempo em que potencializam os ganhos com a produção, movimentando a economia das comunidades rurais, proporcionando proteção às espécies nativas da fauna e da flora e minimizando os usos de recursos e os impactos ambientais.
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